25 janeiro 2007

24 janeiro 2007



Procura um lenço, sim, um lenço. Tem de ser branco. Desdobra-o, segura-o por uma ponta. Isso. Ergue o braço, assim e move o pulso, só o pulso, agitando o lenço para cima e para baixo. Isso. Ela perceberá. Sim, percebe. Acena-lhe com o lenço branco que ela perceberá. Não tenhas medo, ela já viu muitos lenços, conhece-lhes a cor e a textura de perto. E assim fica dito.

23 janeiro 2007


a espera
sugou toda a humidade
das minhas madrugadas
agora
amanheço deserta

17 janeiro 2007

Calem-se todos os versos

quero ser
o corpo iletrado
o sentir analfabeto
a existência desalinhada
quero transmutar as vírgulas
em nacos de carne
lavar a língua
dos restos do dito

15 janeiro 2007


encavalito-me sem rédeas
no teu apêndice auditivo
levo-o a cavalgar
para prados de alperce
onde a relva é húmida
e se desfaz na boca
desço ao teu joelho coberto
por mil tentáculos sensíveis
mil cordas
do mais afinado instrumento
onde o teu ritmo
me embala
Foto: B.V. (pormenor)

13 janeiro 2007

Pedido indecente

esta noite preciso
que me ames
com amor imprudente
nem que o dizer seja mais longo
que o sentimento
que eu já te amo
com amor impotente

Traffic

Today I crashed
and as the fragments
scattered all over the floor
all the wrong turns
I've been taking
falled down on me
like acid rain
revealing
my lonely bones

Relato em Tom Maior


Passa um cumprimento para o colega de equipa, finta a individualidade, remata um encorajamento com a boca direita.
Esquecido da bola que tece voos próprios, arquitecta camaradagens.
Mais animado que um desenho, sonha golos metralhados numa condescendente baliza.

Foto: Maria Pragana

10 janeiro 2007

Menininha voa, voa, muito p'r'além de Lisboa


sopram-me nas asas de mansinho
como o ar quente num balão
já posso ir ver o mundo
depois que pousei na tua mão

que deixem as minhas asas
um rasto de cócegas macias
no braço que me estendeste
como quem diz para dançar
Deixa-me ver-te. Mostra-te, em surdina, só para mim.


retiro das minhas mãos
toda a precipitação
e faço-as tuas

guia-me
Foto: Maria Pragana


08 janeiro 2007

Hoje não vou escrever nada, está decidido. Não vou dar-me a lêr. Vou encasular-me num confortável silêncio, fechar todas as janelas que dão para fora e debruçar-me prazenteiramente nas que dão para dentro. Hoje sou toda minha.

Tic Tac Tic Tac Tic Tac Tic Tac Tic Tac

enquanto apodrecem os ponteiros
liquefazem-se as horas
pelas paredes gordurosas
da cozinha abaixo
embolorecem os dias
no escabroso calendário
que mede sem escrúpulos
as existências alheias

06 janeiro 2007

Tá na mesa

Posta na mesa, assusto-me com os teus passos que se aproximam: e se fores alérgico a um dos meus ingredientes?

05 janeiro 2007


se te choverem sapos
e não quiseres rega-los
com o húmus da tua boca
abre a janela
atira-os da secretária abaixo

Blogalizar por aí

já invadi todas as páginas
sinto-me indecente
cansada
do opiáceo voyeurismo
inconsequente
da virgindade histérica
das minhas palavras
do desencontro que encontro
do gosto a desgosto

Quero-te

inútil e desvairadamente
e já só me encontro
ao perder-me neste querer

04 janeiro 2007

Em mim

TU tu tu TU tu TU TU tu tu tu TU tu TU

03 janeiro 2007

de noite


quando os desejos se levantam
oiço o vento a cuspir lá fora
abotoo todos os poros
regulo o termóstato
da minha lava venal
para a temperatura ambiente
para fugir ao choque térmico

touch/shout


Foto: Maria Pragana

02 janeiro 2007

Os meus olhos ora abrem ora fecham


Publicado por Provedor do Leitor
Fotos: Maria Pragana

ainda que não possas lê-lo
ainda que ao chegar o tempo
este sítio tenha sido varrido
venho aqui sorrir-me
e sim babar-me
como é ridículo direito
de qualquer mãe
com a lembrança
do teu contentamento
saltitante
cobrindo cada centímetro
de existência
de refrescante entusiasmo
Foto: T.A.