28 abril 2007

Por estes dias


faltar-me alguém é um luxo
quatro companhias rectas deverão bastar-me
mais outras duas planas
como principesco privilégio a escolha
de cores ou padrões
frutos bidimensionais flores estilizadas
círculos sem fundo
deixar que estreitem o seu abraço
fundir-me nelas

24 abril 2007


diz-me
também tens
sonhos domésticos
composições fotogénicas
de felicidade comercial
também te culpas
por fazeres parte das massas
por teres desejos
postos numa toalha aos quadrados
quereres ostentar
o teu melhor sorriso panfletário
ires dormir sem
te preocupares
com as traseiras das fotos
partilhar da ingenuidade
beatífica dos simples

10 abril 2007

páro
a queda do peito
- liquefeito -
à força de estaladas
sobre os calos das faces
já vem aí o meu silêncio
beijo-te agora as orelhas
de boca fechada
para que não tenhas de ser tu
a espantar-me com a tua surdez
coso eu a distância
para que não te piques
e não sangres
deixo-te feita a cama
para que sonhes
a todo o comprimento
sem que te enoveles
nas raízes dos meus cabelos
já tirei o banco da janela
libertei da minha língua os teus pés
para que sejam limpas
as pegadas que queiras
noutros chãos desenhar
tirei a roupa da corda
os as e demais letras
deixando as linhas em branco
ao dispôr do teu escrever