23 dezembro 2008

desculpa lá se me preocupo
com as tuas dores na perna
e os maus-jeitos na alma
se sopro ao invés do lobo mau
construindo sem planos de engenharia
condomínios privados
com reserva de direito de admissão
a tudo o que fica para lá da cama
onde as cobertas
são impermeáveis aos dias úteis´
se são meus braços agulhas
com que tricoto carinhos
essa palavra piegas
tão cara a quem ama

04 dezembro 2008

mar de Leça

o mar? bebi-o da tua boca
cobria um espectro infinito de sabores
deitei-me na tua casa
como num areal macio
apanhei boleia em asas de aves
voei do centro aos limites de mim
tendo-te como garante
da viagem e da chegada

Campanhã

eram gaivotas para lá das linhas dos combóios
notas breves em pauta electrificada
oscilando entre um fundo de rio e telhados
eu invejando-lhes os horizontes leves
o movimento que desejara em direcção à foz da tua boca
onde por entre dentes e línguas te consumo líquido
por um amor de instintos canibais que me acomete