31 maio 2008

eu hei-de amar um magarefe


vou cortejar o homem do talho
adular-lhe a inclinação carniceira
beijar-lhe as mãos sanguinárias
para que quando tudo termine
como da anatomia do porco
me extirpe o apêndice cardíaco
em piedosa profilaxia

19 maio 2008



por vezes apetecia-me
uma janela craniana
uma corrente de ar
a atravessar-me o espírito
ou um último acto em japonês
de visceral honra por não ser
quimicamente correcta
por não me bastar com soluções
de 20 mg ao pequeno almoço

12 maio 2008





enchíamos as mãos
das mãos um do outro
transbordavam dedos
e olha agora
como pendem as minhas
sem cruzamento de linhas
incapazes de temperaturas
empoladas de vácuos
é talvez culpa
do calendário

06 maio 2008

no parque - esboço

velhos à janela
de respiração alterada
por mães que pululam no parque
atrás de bolas
atrás de filhos
morcegos dormentes

deus incógnito

fosses tu Tomé
e entrasses de dedo incrédulo
peito meu adentro
e seriam meus
os joelhos no chão
os cabelos limpando-te
os rasgos do caminho
e ser-te-ia de direito
o adorar-te
incógnito