é de noite em todas as janelas dos dias desligados com a tv quando já cansa o cansaço e murcham as asas do desejo tranco o dia seguinte do lado de fora do estore cativo a realidade por trás das pálpebras e nada mais conta
Aos mosquitos, não lhes tenho medo. Que me salivem em roda dos ouvidos, que bebam do meu sangue até rebentar! Quão superficiais são as suas picadas, quão ridiculamente murchas as suas trompas...
lembra-me a minha pele que eu, esquecer procuro: o correr dos teus dedos, o baralhar de posses na confusão das línguas, a leveza do teu peso ao virar o dentro do avesso
11 dezembro 2006
em prados de linho branco quisera ordenhar-te sob céus de pura lã cavalgar-te
perdoa a língua ácida lambendo os tímpanos, as vísceras expostas no despudor do desespero a saliva áspera desdobrando os vincos da carne viva o hálito rebentando as distâncias mal cosidas
o príncipe desencantado beija a face distraída e branca da princesa salgada a abóbora ao lume a varinha mágica triturando o encanto o espesso esturro na mesa final indigesto de indecentes fadas dorme o infante de negro o fado vigia os sonhos e tudo mais uma vez
no viver trémulo aquando das cinzas da rosa intacta as nuvens sem pressa num gesticular baço ao perecer das horas o sorriso suspenso por trás do chá a tarde desmanchada o voo entrecortado a demora exacta na latitude nevrálgica o salto intenso
torço o pano impotente em pingos exaustos continuo a tarefa cega higiénica existência alma (a)céptica desinfecto a superfície sulcada preparo a pele de galinha o arrepio gritado e o ventre inchando-me quase a rebentar de existência de inoportuna volúpia